24/10 - Reykjavik



Ah, esta dúvida que me estrangula a alma...
Após termos tido que comprar novas passagens, tomar o prejuízo das primeiras, acordar cedo, vim o caminho todo pensando: é muito esforço pra acabar de foder de vez com a minha perna ... Mas a mobilidade vai, a medalha fica....
Chegamos com aqui a três graus centígrados, sensação térmica de um. Não acreditei até à tarde, quando vi os patinhos trombando com placas de gelo nas beiradas do lago. A panturrilha continua presente, menos doendo do que dolorida, agora mais difusamente, mas acho que tenho uma possibilidade razoável de, com 600 mg de ibuprofeno atacando meus rins, suportar a dor de mais uma corrida e não agredi-la para além do irrecuperável. Mas está longe de ser certeza, e a dúvida me corrói a alma.
Com esta temperatura, meu maior questionamento passou a ser outro, a de não conseguir aguentar correr 4 horas e meia sob estas condições climáticas. De pronto já desisti de achar que correr sem a minha jaqueta de frio é viável. Vou com 1 camiseta curta, uma comprida, uma segunda pele, a jaqueta. Lá ao redor do pipi, a cueca, um calção, um minhocão e uma calça de abrigo. Vou dar um jeito de calçar duas meias. E ainda assim temo que não seja o suficiente. 

Depois de muito espernear e resistir, acabei cedendo às súplicas desesperadas de Hannibal e comprei aqui de novo luvas e um gorro, coisas que não havia trazido por duvidar de que seriam realmente necessárias ou terrivelmente eficazes. 300 reais por itens que, além de já possuir, em alguma gaveta, não vejo qualquer possibilidade de usar no Brasil. 
Os preços na Islândia são surrealmente indescritíveis. Uma latinha de Coca-Cola custa uns 30 reais. Tenha-se, por aí, uma noção de quanto se paga num almoço ou na ópera que, se eu não tiver tido que amputar a perna ou morrido de hipotermia, assistiremos amanhã.

Enquanto outras cidades cheguei a visitar uma segunda vez sem sequer me lembrar de já ter estado nelas, como Brisbane, de Reykjavyk as memórias são mais intensas. Reconheci, uns 20 anos depois, o saguão e o exterior do aeroporto, algumas praças, a orla, vagamente o lago. Não me lembro de como, em tempos de vacas mais magras, consegui passar alguns dia aqui sem surtar em desespero com os gastos.

A maratona tem cara de coisa bem simplória: nenhuma exposição do evento ou qualquer festividade a antecedendo, sem macarrão, sem sequer um manual virtual com informações a seu respeito, com vagas para inscrição ainda abertas hoje, apenas uma dúzia de inscritos constando em alguma contagem oficial, percurso que não passa pela cidade, apenas dois vai-e-volta por estradinhas na periferia, margeando a orla. Nem fomos buscar o número hoje, lá longe, porque diz a informação, não presente em um manual oficial, que entregam antes da partida. Espero que entreguem uma medalha, pelo menos.

Enfim, vamos lá. Correr uma maratona por semana não me é uma questão faz tempo. Mas, com uma perna lesionada e uma previsão de temperatura de -1⁰ amanhã, sinto que pela primeira vez em muitos anos finalmente encararei um desafio, do qual sinceramente não sei se conseguirei dar conta.

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