27/10 - Manchester
E, para se reassegurar de que eu não poderia comemorar está viagem como não afetada pela chuva, depois dos eventos de Timișoara e Copenhagen o bom Senhor também garantiu que o dia hoje se iniciasse desesperador. Saindo da casa de nosso precário anfitrião sem mochilas, sem capa de chuva (que, de qualquer modo, acaba sendo bem pouco eficaz no propósito que lhe cabe após uma meia hora de demanda), chovia, crescentemente. E lá iríamos mais uma vez ou não conseguir caminhar pela cidade, ou fazê-lo cada vez mais ensopados, para depois, à tarde, chegar molhados ao aeroporto, com todas as dificuldades logísticas que isto implicaria.
Conseguimos chegar ao ponto de ônibus aceitavelmente ainda secos, e após uma hora de deslocamento, que é o que o bicho levava até o centro da cidade, com suas 47 paradas, a chuva já havia passado. Foi um início de dia aí da assim algo desconfortável, pisando em poças de água, com alguns lugares ainda fechados, e com a caminhada agendada para hoje simplesmente inexistente, certamente não mais oferecida, mas com os responsáveis por ela não tendo se importado em retirá-la dos mecanismos de oferta e agendamento automáticos.
Não era tanto tempo assim disponível, e decidi ir prestar minha tardia homenagem ao Haçienda, o legendário nightclub de propriedade do New Order até umas 3 décadas atrás. Assim como minha potência sexual, é difícil de acreditar que aquilo um dia existiu. Tantos anos depois, só se vê um prédio residencial banal, que parece nunca ter sido outra coisa. O tempo, que nos nossos discos, livros, videos, filmes e eventualmente até hormônios, parece eternamente congelado num constante presente, na vida real, nos vincos em nossas faces e na flacidez de nossas pirocas, passa inegocialmente.
Mas entåo descobrimos a Afflecks! Coisa que eu nem fazia ideia de que existia em minha primeira passagem por aqui. Quatro andares de um labirinto de lojinhas com toda a sorte de tranqueiras nerds imagináveis, e que de longe empalicederam as lojas de proposta semelhante nas quais entrei em Tóquio. Com direito a decoração ainda mais inspirada com a temática do Halloween. Tive meu momento de semibinge de compras compulsivas, ainda assim frustro devido a meu temperamento mesquinho e avaro, mas agora sou dono de um peixe jurássico que brilha no escuro, meias do Freddy Krueger e bottons do Kraftwerk!
No aeroporto, finalmente pude acertar as contas com o passado recente e, desta vez, em vez de entrar na sala vip, fazer despesa no Starbucks. Nem foi tanto. As 27 libras franqueadas deram conta de 3 frapuccinos, um suco, um brownie, e foi isso aí.
E no último vôo econômico, tampouco se concretizou minha preocupação permanente nesta viagem, ninguém implicou com o tamanho das mochilas.
Tá acabando. Já me vejo cada vez mais distante do excessivo 0ºC da Islândia e me aproximando dos nauseantes 35º de São Paulo. E daquela vidinha besta que simplesmente passa, com o trânsito, a produção compulsiva de música dolorosamente ruim que ninguém escuta, a surda e morna passagem do tempo que depois subitamente explode em minha cara, toda a enorme retentividade para tentar garantir alguma qualidade aos inúmeros anos de vida futuros dos quais me vejo covarde demais para conseguir me livrar, em prejuízo dos anos de vida presentes.
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