28/10 - Lisboa


Lisboa é uma coisa esquisita. Na primeira vez que vim para cá, há um bom quarto de século atrás, achei um lugar atrasadinho, sujo, pobrezinho, com portugueses meio grosseiros e falando uma coisa mais difícil de entender do que o Espanhol do país ali ao lado. Reforçou minha impressão de que a Europa começava mesmo só na Espanha. 
Então, na minha segunda vinda, uns anos atrás, talvez por esperar tão pouco, me surpreendi.... Ainda era aquele lugar com aquela arquitetura meio "Salvador", com aqueles azulejinhos azuis repulsivos, tudo permanecia um pouco velho, largado, mas certamente a entrada na Comunidade Européia havia beneficiado o país, com mais modernidade coexistindo com a decrepitude. Passei também só um dia, mas me surpreendi positivamente.
Hoje, num movimento pendular, voltei a me sentir meio desanimado com a cidade, repelido por aquela dilapidação antiga, em contraste com a dilapidação mais moderna do leste europeu, na qual vejo tanto mais encanto.
E tem também o povinho... Portugal atualmente só perde em termos de infestação por brasileiros para aquele outro país, a um oceano de distância...


Começamos o dia, e praticamente o encerramos, em mais uma caminhada, a derradeira, com Hannibal buzinando na orelha que "tem que pagar, tem que pagar"... A guia, açoriana, tinha um inglês impecável, mas nem por isto o superpoder de evitar.... A chuva! Novamente! 
Havíamos saído do hotel sem pegar capas de chuva nesta manhã, apesar de a previsão do tempo já haver cantado a bola. Em parte por otimismo, pensamento positivo, em parte pela inutilidade daquilo para mais do que uns 5 minutos embaixo de uma chuva forte. 
Mas a chuva veio, e aquele desalento de se ver cada vez mais molhado, prestes a tomar um avião logo mais tarde, sem ter como ou onde se recompor. Com o passaporte a alguns pingos de água de começar a se umedecer também. Com os tênis, daquela malhinha respirável, já incontornavelmente derrotados.

Então, mais uma vez, abrimos as pernas, e compramos a 4,5 euros, aquelas capinhas de plástico bem bosta, que, além de insuficientes, eu já tinha, não em alguma gaveta em São Paulo, mas na própria mochila. Estas capas têm o poder mágico de fazer com que a chuva pare um tempo depois de serem vestidas, só o suficiente para terem se tornado uma coisa molhada incômoda para ser carregada, e fazer a chuva voltar assim que se secaram molhando alguma qualquer coisa dentro da sacola na qual foram colocadas. A caminhada terminou logo mais, e até deixei Hannibal dar cinquinho pra moça, que realmente foi esforçada e competente. 

Com o tempo instável, refugiamo-nos num shopping center, e de lá não conseguimos mais sair porque a chuva não parou pelas próximas horas. Com direito a cenas de baianitude explícita, como tirar os tênis e meias encharcadas por baixo da mesa do restaurante, ou tentar dar uma disfarçada e secá-las um pouco no aparelho de ar quente no banheiro do estabelecimento. Comprei ainda mais um microfone, vamos ver se este consegue dar conta melhor de minha ruindade vocal. Não estava esperando que este diazinho em Lisboa fosse inesquecível, mas mais uma vez perdê-lo para a chuva e fazer turismo de shopping center é foda. 

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