26/09 - Leuven

Leuven é para a Bélgica meio o que uma Sorocaba é pra São Paulo, e a analogia era mais exata ainda até há dois dias, quando só o que eu sabia de ambas as cidades era os nomes. Mas não desapontou, maiorzinha e bem mais interessante do que Charleroi, mas compacta, cosmopolita, cheia de gente bonita e educada, um dia e meio não bastaram para tudo o que tinha pra ver. 

Depois de um desjejum com café e muffin de supermercado, fomos para mais uma walking tour, desta vez em espanhol, era o que tinha. Chegamos a achar que havíamos tomado cano do cara, por falta de número mínimo interessados, não teria sido minha primeira vez. Mas com um pouco de atraso um grupo suficientemente grande para dar pra escapar desapercebidos se formou. O guia, um senhor sem maior especialização que parecia ter feito pouco mais além de ler alguns guias turísticos sobre a cidade para preparar seu discurso, foi logo avisando: "o site diz que esta caminhada é gratuita, mas não é. Temos este e aquele custo e taxas empresa e coisa e tal, e espero receber pelo menos 10 euros por pessoa"... Pensei então comigo mesmo, candidamente, "pau no seu cu, amiguinho do caralho!" De novo, como em Shangai, um marginalzinho se cadastra em uma plataforma na qual há um risco explícito de um brasileiro parasita espírito de porco usar seus serviços gratuitamente, se aproveitar de sua boa-fé e depois te dar uma banana, e tenta mudar as regras do jogo, achacando os utilizadores a pagar pelo serviço prestado, no caso já profilaticamente.
"Ah, meu amigo, eu fujo sempre, mas no seu caso adorarei fugir e desfrutarei de cada passo dado nesta mais uma de minhas molecagens!", pensei cá com minhas banhas.
E assim foi. Depois de uma caminhada não propriamente memorável, na qual o sujeito insistia em apertar o passo para além do que um dos membros do grupo, um colombiano quietinho e meio afeminado que havia operado as pernas, ou a fimose, ou algo assim, conseguia acompanhar, estrategicamente aproveitei uma dobrada de esquina para me por em fuga, com uma Hannibal embasbacada, indignada e apopleticamente culpada em meu encalço. Secretamente me desejando um câncer. O que eu próprio, manifestamente, também desejo, sem sucesso até o momento.

Após um simpático resto de tarde, temperado por alguma paranóia de acabar inopinadamente voltando a esbarrar com o sujeito, mastigando umas jujubas meio duras, que, além do risco de arrancar alguma obturação, fizeram Hannibal engasgar e quase me forçar a realizar uma desastrada e incompetente manobra de Heimlich, dado que feita por um psiquiatra, encontramos uma oficina de jam session num centro cultural, que, ao contrário do de Madrid, oferecia atividades. Que coisa bonita, umas 25 pessoas em cima do palco, amadores, boa parte delas se alternando entre vários instrumentos, produzindo de improviso continuamente por umas duas horas uma música com um grau de decência que eu só acreditava ser possível se feita por gente bem mais profissional e grupos menores e mais entrosados. A maior parte havia trazido seus próprios instrumentos. Entre os disponíveis na sala, nenhuma flauta, ou eu teria me aventurado a também participar. A única outra coisa que toco quase tão mal quanto ela não teria sido muito adequado tocar em público. 
Ah, e eu esqueci de comprar uma nova esponja de banho. Então, a partir de hoje, a esponjinha de lavar louça disponível no quarto do hotel acaba de receber uma promoção.

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