29/09 - Bruxelles
Mas que bosta! Bosta, bosta, bosta, bosta, bosta!
Viagem é que nem plantão no pronto-socorro. Não pode dizer que está tranquilo que aparece um marmanjo com uma escumadeira enfiada no rabo, dizendo que tropeçou e caiu sentado em cima. Estávamos tão entusiasmados com a pontualidade ao minuto de todos os transportes que, ainda que não baratos, nos levariam ao aeroporto de Bruxelas e, de lá, a nosso próximo destino. E eu todo contente, apesar dos olhares do mais epilético desprezo e aturdida incredulidade da Hannibal, porque havia abduzido do quarto de nosso simpático anfitrião em Nieuwpoort, o mais novo integrante da minha família de pelúcia.
Assim como aquele peidinho meio úmido que prenuncia o dilúvio de merda que está a caminho, nuvens marrons começaram a se apresentar no horizonte quando entramos no lounge vip do aeroporto: mais uma salinha lotada, com uma lavagem de porco leproso servida como comida, e todo mundo lá sorridente porque tem um cartão de crédito e pode ficar lá felizão passando mais desconforto do que se simplesmente estivesse na área de embarque dos mortais comuns no aeroporto.
E então o vôo é atrasado em 55 minutos, o suficiente para no fazer perder a conexão, que, assim como a Ana Paula Arósio, era bem apertadinha. Em vez de chegar às duas da tarde em nosso destino, agora teríamos que pegar o voo das 8 e pouco, e chegar lá depois das 11 da noite. Um dia e meio para conhecer a cidade, e já meio dia perdido.
Mas fica pior... O voo atrasado ia atrasando cada vez mais, haviam descoberto um problema qualquer no alarme de incêndio de um dos banheiros, coisa inofensiva mas capaz de fazer um avião abortar uma decolagem se disparasse acidentalmente. Depois de mais de uma hora, com todos os passageiros embarcados até ali na cara da aeronave, vendo o pessoal da companhia aérea apenas passando de cá pra lá falando em seus walkie talkies, o pior de fato acabou acontecendo, o voo foi cancelado. O novo aviåo sairia às 7 da noite, para chegar às 21:00 em Munique, para então fazermos uma conexão que partia às 20:30! E para a qual estávamos meramente na fila de espera! Sem chance de fazer alterações online, apesar da crassa impossibilidade da solução traçada pela IA da Belgian Airlines.
Enquanto isto, as baterias dos celulares seguiam como a minha potência sexual, se esgotando rapidamente. Não encontrávamos tomadas pelas paredes, e logo ficaríamos sem poder receber sequer os e-mails com instruções para a viagem de volta para o passado sugeridas pela linha aérea.
Saindo lá do fundão da área de embarque, de volta para a frente do aeroporto, chegamos a uma help desk com umas 400 pessoas na fila, porque 8 outros voos já haviam sido cancelados hoje. Por sorte, ao pedir para um dos rapazes uma informação qualquer, ele me achou todo tesudinho e gostosão, e passou a resolver meu problema, em vez de termos que esperar mais umas 3 horas e meia na fila. E a solução do problema foi que não havia solução para o problema. A próxima conexão viável só sairia amanhã de Munique no fim da manhã. Ao menos nos conseguiu hospedagem num Holiday Inn perto do aeroporto, com direito a jantar e café da manhã. Do dia e meio reservado para nosso próximo destino, 2/3 acabavam de ser perdidos. Mais a primeira diária do hotel lá.
Então nos restava ir dar aquela voltinha ejaculação precoce em Bruxelas, e ainda tendo que escolher entre sair em seguida e acabar perdendo o jantar, que encerrava às 9 da noite, ou jantar às 4 da tarde, sem o menor vestígio de apetite, e correr para Bruxelas depois, para uma voltinha ainda mais curtinha.
Optamos por não perder o jantar também, já que tanto já se havia perdido. Este se resumia a um menuzinho fixo de uma pizza brotinho, uma coquinha merda daquelas de garrafinha de 200 ml, e uma bola de sorvete de creme, que ousavam afirmar que tinha o valor de 35 euros.
A passadinha por Bruxelas tampouco foi memorável. Já havia anoitecido, a cidade pareceu mal-iluminada, não sabíamos muito bem para onde ir ou o que fazer com tão pouco e tardio tempo. Pensei que ao menos teria uma última oportunidade para comer mais uma aqui chamada gauffre, como a que comi em Charleroi. Entramos na loja errada, que nos vendeu um arremedo do que foi o primeiro doce. Enquanto comíamos, olhávamos para a loja da frente, só depois percebida, na qual se vendia o doce original. Pelo menos encontramos um improvável lugar que vendia boba tea, que foi consumido depois do empanturramento com o jantar precoce e a gauffrezinha vagabundinha.
No final, é aquela coisa, a latrina meio cheia ou meio vazia de merda. Se quiser fazer o advogado do diabo, posso bem argumentar que a vida não é aquilo que acontece na mera concretização mecânica daquilo que foi planejado, mas na aventura de ser atirado em direção do inopinado, e cair de boca nele porque escorreguei num cocô no chão neste processo de ser tomar um empurrão da mão peluda e sarnenta do destino. E há coisa piores na vida do que reclamar porque fui forçado a ir dar uma voltinha relâmpago em Bruxelas.
Ah, e a Hannibal ainda perdeu seu tablet lá no meio daquele desgosto todo. Procuraremos amanhã nos achados e perdidos do aeroporto, mas não sei não... Esta paulada vai ser violenta...
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