09/10 - Sheffield


O cabresto da Hannibal funciona até que bem razoavelmente! Pela primeira vez na viagem eu e a feliz população do Reino Unido ao redor daquele gerador de ondas sonoras sísmicas pudemos dormir com nossos tímpanos sendo uns 80% menos currados pelos megadecibéis sonoros de puro suplício emanados por aquela laringe atômica forjada nos intestinos de um trio elétrico de axé music. Finalmente hoje não acordei deitado sobre uma poça de sangue jorrado de meus ouvidos sobre o pobre travesseiro, e precisei apenas espanar para fora da cama alguns pedaços das minhas trompas de Estáquio ainda arrancados de meu crânio pelo poder dos 20% de ronco restantes.



O hotel, mais uma daquelas casas com escadas de degraus estreitinhos e íngremes, nos colocou no terceiro andar. Os banheiros estão no segundo, o que dificulta a vida de um senhor entrando em anos e com crescentes urgências miccionais. As máquinas de lavar e secar roupas, ainda mais penosamente, estão no primeiro, e foram uma bênção dúbia. Se por um lado, mostraram-se mais talentosas na tarefa de dar conta do futum que exalava do sovaco de minha camiseta desde a última corrida do que eu tentando lavá-la embaixo do chuveiro, por outra foi um trabalhão comprar sabão para usar uma única vez (porque depois seria apreendido no aeroporto), e para depois descobrir numa gavetinha escondida que o próprio hotel tinha uma caixa de pó para os hóspedes, e ficar subindo e descendo as escadas atrás das roupas que nunca ficavam prontas. E também nunca se sabe que tipo de mancha foi lavada das vestimentas do hóspede anterior.


Não havia nada cultural útil sendo apresentado na cidade ontem e hoje. Por questão de semanas perdi uma montagem do Rocky Horror Show. 
Consegui aqui, finalmente, trocar em uma agência dos correios a minha nota antiga de 10 libras em papel! Não que seja essencial, já conseguimos passar pela Romênia e, até aqui, pela Inglaterra, sem trocar qualquer dinheiro, pagando tudo, até miudezas, apenas com cartão de crédito. No metró de Londres, paga-se simplesmente aproximando o cartão, sem necessidade de comprar bilhetinhos em maquininhas, como na Eslováquia, ou, bem, no Brasil. Mas alguma dificuldade com nossos cartões aquele sistema teve, porque usávamos um deles para passar pela catraca e, na viagem seguinte, ele não era mais aceito. E de umas 4 viagens que fizemos, apenas uma vez o valor apareceu na fatura. Provavelmente não conseguiam realizar o débito de um cartão de outro país, e bloqueavam seu uso.


Logo cedo hoje entramos em mais uma igreja, onde a simpática tia que estava na salinha da administração nos contou que serviam por uma libra almoço para os membros da comunidade, sobremesa incluída. Pensei: é imperdível! Bandejão inglês, compartilhando dos piolhos e pulguinhas dos mendigos locais, e ainda economizando uma grana! Quando na vida voltarei a ter outra oportunidade antropológica como está? A perspectiva agradou menos Hannibal, que não gosta do cheiro de gente, e seguimos em frente com pouca perspectiva de voltar para o almoço mais tarde. E então descobrimos, por preço 17 vezes maior, um dos buffets livres mais suntuosos que fui também dubiamente abençoado a frequentar. Provavelmente entre os top five de minha experiência buffezística de viajante pançudo. Balcões e balcões de comida japonesa, chinesa, indiana, americana, alguma coisa tailandesa, além das sobremesas. Refrigerante não era incluído, mas, como a máquina de água ficava ao lado da de outras bebidas, dava pra dar uma bicada nelas quando não tinha ninguém olhando. E a vida é assim, meus amigos: depois de pegar aquele travesti na Waldemar Ferreira, bate a culpa. Depois de 4 pratos cheios no balcões de salgados e três no balcão de doces, bate a culpa também. Aquele pançudo arrependimento por colocar a perder meses e meses de sofrido jejum diário, flexões e polichinelos intermináveis depois desperdiçados na inconsequente orgia alimentar, algo como passar a mão até em bunda peluda e espinhenta na sauna gay, só porque ela está lá.





Ah, e adquiri em um dos museus, o próximo membro da família de bichinhos.



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