14/10 - Marseille
Então, amiguinhos... Conforme previsto, foi a noite do terror. Desconfio que os bancos de ônibus são deliberadamente projetados para que não haja absolutamente qualquer posição confortável compatível com alguma horas de sono. A isto some-se o fato de que a minha cadeira estava quebrada e não dava sequer aquela reclinadinha bosta de 5 graus, mais nêgo falando no ônibus a noite inteira, paradas para pegar passageiros, para descanso, para verificação de passaporte e o caralho. No final, a posição menos inviável para tentar dormir era o papai-e-mamãe mesmo, simplesmente ficar sentado no banco normalmente, mas com o chacoalhar constante do ônibus, que ficava jogando muito de um lado para o outro na estrada que parecia bem sinuosa, e sem o banco minimamente reclinado, a cabeça também ficava sendo arremessada para lá e para cá, impossibilitando qualquer relaxamento. No final, me amarrei ao banco, como um Ulisses tentando escutar o canto de sereia roncante de Hannibal ali ao lado, que nesta noite não roncou porque também não conseguiu dormir.
Chegamos ao apartamento da simpática Annie, que está saindo do Booking mas honrou nossa reserva antes de fazê-lo, ao contrário daquele filho da puta de Kosice. Percussionista que trabalha com músicos brasileiros e fala bom português, gentilmente já havia se prontificado a não alugar o quarto na véspera, para poder nos receber logo de madrugada. Seu esquema de hospedagem é um pouco precário, contudo. Simplesmente apenas um quarto de seu apartamento alugado, com uso compartilhado das áreas comuns, enquanto ela dorme no quarto ao lado, com um cachorro carismático mas em por isto menos mijante emprestando o aroma da cozinha, sem maior separação entre o hospedeiro e o hóspede, numa incômoda promiscuidade semelhante à que encarei uma vez em Kiev. Mas era a Ucrânia, afinal.
Marselha é quente. E suja, muito suja. Mais suja do que meus pensamentos quando devaneio sobre a Ana Paula Arósio. Um pouco mais ajeitadinha nas porçōes mais turísticas, com alguns parques e praças bem cuidadinhas, mas, de resto, é como estar perdido pela Boca do Lixo em São Paulo. Ou, mais propriamente, lá pelo Cabula em minha nada saudosa Salvador, se ė que me entendem.
Sem, por causa das agruras busílicas da noite passada, sequer ter conseguido ler a respeito da cidade na véspera, metemo-nos em, sim, mais uma walking tour. Da quais, sim, mais uma vez, fugimos sem pagar, sob fortes e indignados protestos de Hannibal, que convulsionava, espumava pela boca e tinha crises de liberação esfincteriana múltipla, enquanto se afastava a contragosto de nosso esforçado guia. Almoçamos dois belos hambúrgueres com batata frita e refrigerante, numa formule improvisada pelo cozinheiro da lanchonete, mas muito benvinda, por apenas 19 euros. Depois fomos a uma igreja lá em cima, e em seguida voltamos para contemporizar com a prestativa Annie, que, adivinhem, estava em casa. E teve dificuldade para compreender minhas músicas cantadas em francês.
Comentários
Postar um comentário