18/10 - Palma de Mallorca

E então chegamos em Palma quase uma da madrugada, para uma caminhada de mais 2,5 km pelo acostamento da rodovia, lugares ermos e mal-iluminados, sempre naquela cagacinho de ser como em Houston, depois de andar 2 km a calçada simplesmente acaba e você tem que voltar toda a distância a pé, desistir e chamar um táxi. Mas funcionou, e até tivemos uma boa surpresa, o hotel original havia sido fechado e nós, transferidos para outro ao lado, melhorzinho, com um padrão bem 3 estrelas. O que, pro meu perfil de gasto, é suíte presidencial. A cidade, de madrugada, no trecho de subúrbio praiano em que estamos, me lembrou muito Cairns. Houve um tempo em que, não sei como, eu conseguia fechar o dia turístico no finzinho da tarde, e me contentava com treinos de corrida de uma horinha, então não era infrequente sair para correr à noite aí pelo mundo afora, e minha corridinha por Cairns ficou na memória.


A fantasia que eu fazia de Palma era a de uma cidade pequena, mais tosca, litorânea, mas, em sua região central, não se diferencia muito da própria Valencia ali pertinho.
O transporte público é bem ruinzinho. Os ônibus são esparsos, o motorista não pára quando o ônibus está cheio (o que desperta em mim um pesadelo da repetição da situação vivida em Positano amanhã, tentando chegar à maratona), só se paga em dinheiro ao motorista, que a cada parada explica algo ou briga com uma meia dúzia de passageiros, inclusive em alguns momentos nós. Por dois euros, não há transfers, ao contrário do que diz a pesquisa na internet. A informação sobre trajetos dada pelo Google Maps é diferente da do aplicativo específico da cidade, que por sua vez é diferente do escrito na parede das cabines dos pontos de ônibus.


O sol estava aleijante hoje próximo ao meio-dia. Já cobrou de minha pele algum preço hoje, e deve acabar o seu serviço amanhã durante a corrida. Em mais uma situação que me remeteu à Austrália, havia dispensadores de protetor solar por toda a área da feira da maratona, uma coisa oleosa e nojenta, à qual devo ter que acabar me submetendo amanhã. Talvez o mais consistente indício de meu pequeno pé no autismo seja a intolerância que tenho com gosmas em minha pele. Nada de interessante acontecia naquela feira nem nos foi dado de presente, exceto a camiseta da corrida, incluída na inscrição, mais uma que passarei o resto da viagem tendo que carregar.
Havíamos nos inscrito em mais uma caminhada, mas abortamos a presença porque só havia mais um par de pessoas ao lado do guia, o que inviabilizaria a fuga. Mas fiz questão de, anônimo, passar ao lado do guia e até esbarrar de leve em braço, em represália por ter conseguido arrebanhar tão pouca gente.

Deus usualmente se diverte chutando continuamente nossos sacos com chuteiras de prego embebidas em pimenta trinidad scorpion, e depois ainda regurgita ácido clorídrico nas feridas... Mas às vezes, quando está muito ocupado introduzindo o joelho no ânus da vítima da vez, acaba se distraindo um pouco de outros de seus filhos, e algumas bênçãos podem acontecer.
Hoje, na correria para pegar os números da corrida em tempo de bater o macarrão (sem parmesão, mas pelo menos este era de graça) da pasta party, apesar dos olhos bem ocupados com o mapinha no celular, vislumbrei de relance em uma parede o mesmo cartaz que já havia visto em Sheffield, lá com datas só para novembro, mas, aqui, estava rolando hoje: The Rocky Horror Show!
Qual a probabilidade de, ao dobrar uma esquina, você encontrar a Ana Paula Arósio de baby doll, fazendo aquele gesto de "vem aqui" com o dedinho? Tá, já que custou 31 euros por cabeça, sem o dedinho fazendo "vem aqui". Ainda assim, comigo já aconteceu cinco vezes. Não só as apresentações que assisti, há quase um quarto de século na Broadway e a de São Paulo há uns anos, e agora esta, assim como as que por algum motivo do qual nem me lembro mais perdi, em Cardiff e Londres.
Em compensação, ainda não cruzei com uma única montagem de Chess, que, junto com Rocky Horror, integra o díptico do supra-sumo dos musicais, cada uma das quais já gravei duas vezes. Mas não encontrar algo sendo apresentado é o mais do que esperado. Pela quinta vez estar concomitantemente com uma peça na cidade, e conseguir assisti-la em três das cinco, é umxa grande distração de Deus. Mas agora também acho que deu.


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