21/10 - Prishtinë



A precariedade de Kosovo continua visível. Até agora, o único local em que conseguimos usar um cartão de crédito foi em uma doceria. De resto, mesmo em restaurantes maiores ou lojas, só dinheiro. Nenhum chip ou e-sim de outro país funciona aqui, por falta de contrato entre as operadoras de fora e daqui, então, internet, só limitada às raras redes de wi-fi que dá pra pegar na rua, ou a do hostel, de sinal bem fraco e intermitente.

Mas hoje, andando pela cidade, compreendi um pouco melhor por que me atraem estas cidades menores, e mais cá pro leste na Europa: a falta de uniformidade. A cada esquina dobrada, uma coisa diferente pode aparecer, mesmo que seja uma casinha de reboco ou um cano de esgoto. Em Paris é sempre aquela coisa mais homogênea, aqueles paredões de edifícios quadradinhos de três andares beges, interrompidos aqui e ali por algum museu ou monumento. Aqui é feio, pobre, mas muito mais frequentemente surpreendente.


Pristina não é Londres, mas os museus daqui, ainda que pequenos e mal cuidados, também são gratuitos. Passamos hoje pelo das crianças da guerra, que me lembrou muito o museu das relações rompidas, em Zagreb, com o mesmo conceito: um objeto aparentemente aleatório qualquer, com o texto ao lado explicitando o contexto e a relevância daquilo para a pessoa que a possuía. Depois, algumas mesquitas, um bazar de rua vendendo absolutamente qualquer cacareco imaginável, museu etnográfico, várias lojas de doces para aproveitar os preço bem mais baixos do que viemos pagando, mas o bacana simplesmente é flanar pelas ruas, entrar nas lojinhas, no final vimos hoje apenas 1/3 daquilo que havia oficialmente para ser visitado. Agora, amanhã, vai ser mais correria para tentar dar conta de todo o resto em tempo de não perder o voo.


À noite, um breve recital promovido por um grupo feminista local. Coisa bem amadora, com provavelmente membros do próprio grupo de apresentando, e muita gente da família na platéia. Música meio dissonante, tocada hesitantemente pela violoncelista. A cantora fazia todas aquelas caras de sofrência expressiva, mas dominava melhor seu instrumento. Só três musiquinhas. Em seguida, vieram outras moças declamar poesia, em albanês, aí já houvemos por bem cair fora.

A perna vai melhorando e ficando pronta pro próximo castigo. Hoje já doeu muito pouco, e todas as 82 quedas foram de mentirinha, só pra dar uns sustos na Hannibal. Fazendo a correção bayesiana de minhas expectativas, se ontem eu achava que tinha 60% de chance de correr a próxima maratona, agora acho que 60% de chance são de conseguir terminá-la.



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