22/10 - Prishtinë, København
Já dizia Slobodan Milosevic: a vida é dura, as fezes, bem menos. Hannibal ontem tomou umas cápsulas do que parece ser um extrato de ameixa, para finalmente poder fazer a passagem daquilo que vinha há dias gestando para a outra vida extra-intestinal. Eu, que já sou estruturalmente craque em fazer merda, nem precisei de auxílio externo, mas também passei por uns dois episódios de parto fecal, então foi uma manhã bastante focada no radar ligado para banheiros. Alguns deles sem papel higiênico, o que exigiu criatividade para iniciativas de cujos detalhes pouparei meus sensíveis leitores. Mas deu pra dar uma sapecada numa biblioteca com arquitetura bem maneira, na antiga prisão para criminosos politicos no tempo da guerra, umas duas galerias pequenininhas, além de passar pela frente de uns três museus fechados, sem data de reabertura.
Um pouco mais tarde, quando repetíamos pela quarta vez em dois dias a panna cota de Lotus da doceria, o universo fez valer a lei da retribuição, e nos devolveu, sobre a manga do agasalho da Hannibal, por intermédio de um passarinho sentado numa árvore sobre nossas cabeças, um pouco das tantas fezes que lhe havíamos copiosamente entregue mais cedo.
O ônibus para o aeroporto, que passava a cada duas horas, cujo trajeto eu havia estudado exaustivamente e controlava raivosamente pelo aplicativo de transporte público da cidade, com toda a dificuldade de conseguir chupar um pouco de wi-fi de algum lugar, simplesmente passou no lugar certo e na hora certa. Talvez algum local, ao ver minha cara de preocupação antes e de alívio depois de subir no veículo, tenha se perguntado por que tanta ansiedade para simplesmente tomar um ônibus.
Aguardando a condução, já caíram umas gotinhas de chuva, mas tudo bem, estávamos de partida. Ao chegar a Copenhagen, o chão estava molhado, havia chovido também, mas tudo bem, não estava chovendo quando chegamos. Amanhã seria especificamente interessante não chover, mas a previsão indica chuva à tarde. Vimos tendo dias bons nesta viagem, apenas uma noite de chuva moderadamente incômoda em Timisoara, mas talvez esta sorte esteja chegando ao fim.
No aeroporto em Pristina, até tinha uma sala VIP, extremamente bundinha, mas que não era coberta pelo programa do Mastercard. O do Visa talvez incluísse, mas já desisti de fazer o app funcionar. Em consequência, tivemos que pagar por uma fatia de pizza no aeroporto, com o preços desavergonhadamente umas 4 vezes mais caros do que na cidade. Foi um voo esquisito... À excessão de nós, que estamos ziguezagueando pela Europa ao sabor das maratonas, que lógica haveria em um vôo direto entre o Kosovo e a Dinamarca? Ainda assim veio cheio, inclusive de criancinhas berrando o tempo inteiro, uma delas ao nosso lado, no colo de uma mãe achando lindo cada balido daquele pequeno animalzinho.
E agora, de volta ao primeiro mundo, os preços voltam a chocar. Pagamos o equivalente a uns 60 reais por um salgado e duas latas de energético num Seven Eleven.
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